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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os olhos tristes de um homem

Passou por aqui debaixo de chuva, a chuva de uma única nuvem que lhe cobria a cabeça, como um chapéu cinzento. Sua fé estava apagada, percebi isso nos olhos que iam opacos, perdidos e sem vida, sua dor era tanta que até hoje me pergunto: o quanto suporta um homem sofrido?
Pelo caminho, os cacos se espalhavam, deixando um rastro de tristeza e opressão, seguindo-o, iam as irmãs Angústia e Aflição, aquele homem parecia que carregava uma lápide no bolso e um mundo em ruínas no coração, seu terno desalinhado, seu cabelo emaranhado, seu odor forte de álcool, há quantas noites não dormia? Há quantas noites não se tinha com a cama? As cores em seu corpo denotavam palidez, era como um retrato falado da própria tristeza. Pobre moço, rapaz novo, ia cruzando a Alameda dos Sertões e, entre um passo e outro, deixava brotar uma lágrima.
Sua dor, aos poucos, floresceu alegre em seus olhos, pois, agora, ele era totalmente dela, sem eira nem beira, nem aresta alguma para aparar, de corpo, mente e alma. Tropeçou, caiu e levantou com exaustidão, nem fez questão de limpar-se, mas foi andando adiante, para trás, deixou uma foto acidentada, amassada, com alguns rasgos nas pontas, a imagem era bela, contrastava com aquele ser sofrido - uma donzela, uma linda moça que parecia ser atriz de novela - no verso da foto, apenas uma estrela, uma cruz e um verso, todos com data registrada, devia ser sua amada que agora já não pertencia a esse mundo.
Vagando no escuro, o homem sumiu, não deu tempo nem de avisar-lhe sobre a perda, deixou apenas uma herança para quem seguia seu caminho: "Encontramos na tristeza, a certeza de que a beleza está além de multifacetadas personalidades, ou de roupas caras, ela está num lugar onde apenas os corações apaixonados vão pisar", após isso, deixamos os olhos tristes de um homem seguir o seu caminho sem rumo, esperando que jamais tracemos o mesmo caminho de um homem em luto.

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